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terça-feira, 23 de setembro de 2014

Voz



Ínfimas as luzes
baças
da cidade
nos seus olhos

Ternos afagos
soltos
pela manhã
os corpos
adormecidos
no cais de pedra

As luzes
Incendiaram 
à noite
a loucura 
nos abrigos

Ela, a cidade
calou uma
e outra vez
o medo
do lado 
de dentro
dos muros

Fundida
a última estrela
colada nos vitrais
do altar-mor
dos desejos

Despojados
do sonho
seguram  
os rostos
suados
amordaçados
ultrajados

Desfilam à vez
os corpos
as almas
e as correntes
do Tejo

A cidade
calada
não ouve 
o grito
dos silêncios
unidos numa só
voz

terça-feira, 9 de setembro de 2014

Manifesto

Escultura: Ricardo Kersting

Sempre em puro manifesto
contra tudo e todos
mas sem nada
que a possa dissuadir
de prevaricar as ondulações
frequentes do seu pensamento

Esmagada pelo mudo  
que a viu crescer
vai de porta em porta
vendendo ideias
e escrevinhando versos
que a fazem acontecer
num único movimento
dos olhos

Mas pensando bem
os seus versos falam de quê?

- carece ser vista 
pelos olhares do mundo

Dakini: (Série "Mulheres de Areia")2010

quarta-feira, 3 de setembro de 2014

Manuscrito

Acordou sentado num conto 
ainda por escrever. Deitou-se de novo
sem saber como iria ler 
esse manuscrito
proscrito 
na face contrária dos olhos

Lembrou de um sonho inanimado
no centro da terra. Esburacou os olhos
agora centrados
nesse lugar 
onde 
outrem escreveu
o que ainda faltava escrever
*
Dakini (Série de poemas "Infinito dos Olhos"/14)