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quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

Coisas Minhas



Todo o mel fabricado
no teu corpo, destilarei
na minha boca hábil
em plena força

Que o amor se prepare
para novas investidas
sofredor, inconstante
e arrebatador, também ele
caído a meus pés
sempre que maldigo
nas horas impróprias
o ocaso do meu destino
ligado a coisas minhas

Dakini in "Mulheres de Areia" 2010
Ao abrigo dos direitos de autor.

quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

Dos tempos vazios

Era um tempo esquecido 
em outros tempos
sabes... os tempos vazios
no dia da história já escrita
do outro lado 
da margem esquerda do tempo

E sabes…eram doces afagos
os braços
mas não os olhos

Os olhos…
os olhos, sorriam para dentro
cerravam as pálpebras
às avessas

Era tudo avesso 
ao seu próprio sentido
no dormitório dos seus medos

Dormiam com os olhos abertos
e mordiam os lábios
dissecados
espremidos 
até à última gota de suor
dos seus rostos

Mas sabes…
era o dia dos tempos vazios
onde só os corvos ameaçam ficar 
do lado de dentro da boca
porque todas as hóstias
se afundaram nos olhos

Dakini

quinta-feira, 19 de novembro de 2015

Tesão

Não vivam a ilusão de tudo saberem, de tudo controlarem, de tudo manipularem, de tudo se apoderarem, porque perdem mais do que todo o poder que julgam possuir.
Não o saberão por certo estes gorilas que habitam a selva de betão, e por isso continuam a sua saga, junto dos/as pseudo(abdominais), já castigados de tantos tremeliques.
Há dias que são como um trovão, em cima de quem com pés no chão se aventura por terrenos áridos, com os saltos em fios de cabelo.
Não coloquem os manipulados, as mãos em forma de concha, porque irá chegar o dia em que, se entesarão, mesmo sem o já denominado (tesão)
Dakini

quinta-feira, 12 de novembro de 2015

Pensar

Para se pensar em alguma coisa, terá que existir um modo de pensar. As várias formas de um pensamento estão castigadas por tanto uso indevido, por pensarem em demasia em coisa nenhuma. 

O pensar em muitas coisas, permite concluir com todas elas, um leque com as várias cores do arco-íris.
Abanando as estruturas, talvez se descaia um pensamento invulgar. Quiçá, estruturando as partes massificadas, chegarei lá, onde o pensamento tem um lugar único, uma forma sui generis de ser.

Pensar em não pensar em nada, por agora, é o início de alguma coisa…talvez!

Dakini 

sexta-feira, 11 de setembro de 2015

No centro dos olhos

Lágrimas caídas 
no centro dos olhos 
que a terra assegurou 
serem dela
por breves 
e inconstantes
os seus movimentos

Dakini

terça-feira, 14 de julho de 2015

Eu Sou Dakini, o terceiro elemento

Eu Sou Dakini o terceiro elemento.

Dakini (o terceiro elemento), pseudónimo de Dolores Marques, natural de “Moção”, uma aldeia localizada nas encostas da Serra do Montemuro em Castro Daire, surge perante a necessidade de revelação de um Eu mais realista;
- mais terra, mais ar, mais fogo, mais água. Um todo, tendo como ponto-limite um ponto no espaço infinito. Um céu maior.

Os fluxos migratórios das gentes da terra provocaram o seu encontro com a cidade onde vive há cerca de 50 anos. Mas é lá, nas terras altas, que reside parte da sua fonte de inspiração poética.
A sua escrita teve início em 2010, com publicações no site de literatura, Luso-poemas, de poemas da série “Mulheres de Areia” (n/editado), seguindo-se os poemas do livro “Uivam os Lobos”.

Como Dakini participou nas antologias poéticas “Amantes de Poesia” e Universus da Poesia” – Editora Universus.
“Uivam os Lobos” é o seu primeiro livro de poesia, editado em 2014 pela Chiado Editora.
O seu blogue: http://uivamoslobos.blogspot.pt/

Tem escritos 5 livros de poesia, e um em prosa, (não editados).
Tem como projectos de edição os livros: "Mulheres de Areia",(poesia) e "Ao Fundo de Mary", romance.

quinta-feira, 9 de julho de 2015

Orpheu

“Valeu a pena, tudo vale a pena, se a alma não é pequena”
(Fernando Pessoa / Carlos do Carmo

Orpheu

Assim iam os tempos
no coração da cidade
entre a nudez de um rio
a cantar o fado vadio

Trinavam-se os versos
de um poema singular
nos dedos exangue
do poeta a chorar




O poeta sonhou, nasceu
e morreu. Lisboa aconteceu
quando Ulysses se comoveu
ante o dedilhar da esperança
numa guitarra sem voz

Triste fado, o seu
alma sua
sina nua e crua
aportada à Geração
de Orpheu

Lembrava os trapaceiros
encalhados
no cais moderno
junto à  praça do Império

Bradava por naus esquecidas
pelo regresso dos heróis
do além-mar aventureiro
e arruaceiro
onde a mensagem se perdeu

Dakini

segunda-feira, 29 de junho de 2015

Uni(versus) Alquímicos VI


…Instantes depois ouvia-se 
o arfar do peito. Nada seria 
como dantes

Sorria para o Amor. Dividia-se entre 
olhares desfocados
materializados num só Grito

Contorcia-se de dor. Agitava-se
o pensamento suspenso
por um fio

Agora seria o momento de 
o seu a seu dono. Casualmente
atingiu o núcleo ainda morno

Eis que um sentir frio
assumia-se num compasso 
de espera

Instantes depois, ouviam-se
rumores de dentro para fora
e de fora para dentro
Sentiu!

Dakini

sexta-feira, 5 de junho de 2015

Canais

Hoje o pensamento não passa de uma fonte de rendimento às causas mais obsoletas dos vários tipos de linguagem. Satisfaço-me por completo quando durmo. Enquanto isso, não me canso a tentar ocupar um espaço, que por si só, já comunica com os vários estados diferenciados, onde assenta os seus ideais. 

(Melhor deixá-lo em paz, esse canal exequível e transmissível de bactérias nocivas ao meu poder intelectual).

Por tudo o que me passou hoje pela cabeça encontrei a forma que mais se ajusta ao meio ambiente onde vivo, já que o pensar obstruiu todos os meus canais interiores e exteriores, e até se fez caminho para que ao Norte vá chegando, e com o Sul me vá sustentando. Imagino-me sempre a correr de um lado para o outro, mas este peso que ocupa parte do meu imaginário é já uma continuação de um pensamento abstracto a querer alcançar a lógica que escapa à verdade de um raciocínio ímpar, e ao mesmo tempo esperançoso na vivência em paralelo com o mundo que o criou. Esse é um mundo à parte quando me identifico com os medos de sofrer por não poder pensar em nada, a não ser na minha linguagem inexpressiva de hoje.

Este corpo a querer fornecer novas atitudes perante a decadência de um lugar inóspito, sempre que se deita à espera por novas investidas de um sonho, onde o pensamento não passa de simples embuste a deixar pegadas num solo infértil. Pudesse eu saber onde vou, sempre que o meu corpo aguarda por novos ajustes ao meio, e seria a metade na procura da outra metade onde o pensar é só um caminho para chegar ao centro onde reside a minha vontade. 

(Criei um corpo novo! De que adianta saber-me dona de corpos estranhos que não sabem como percorrer as várias entranhas, enquanto permaneço acordada sempre que sonho?)

Leia mais: http://www.luso-poemas.net/modules/news/article.php?storyid=188103 © Luso-Poemas

quinta-feira, 4 de junho de 2015

Uni(versus) Alquímicos

I
Embrião circunscrito
nas  altas esferas 
e o Verbo iniciático
primogénito da
linguagem Universal
do Verso 
no Templo Hermético
onde nasce o Poema

II
Arquitetos maiores
em sublimação 
alquímica 
em prol da mágica 
peregrinação 
sanguínea e retilínea
ditame da inspiração
dos Arquétipos
vívidos na alma
em jeito de oração

III
Uni (versus) que 
versam constelações 
de  sacrossantos 
fecundos a Oriente
e a lua excelsa
que perto
muito perto  do Sol
é pingo nocturno
e brilho soturno 
no Espaço Sideral

IV
A alma poética
companheira 
de jornada
qual estrela guia 
no Cosmos
a romper fronteiras
a furar o ventre 
do céu dos poetas

Dakini

quarta-feira, 3 de junho de 2015

terça-feira, 2 de junho de 2015

O Céu - o seu próximo destino

Gritava para o céu à espera que este lhe devolvesse os seus pertences, e entre eles, uma vida. Uma vida inteira que lhe fora prometida.
Era um dia como todos os dias em que ninguém o via, ou fingia não ver. Tinha os cabelos desgrenhados, a roupa em farrapos e os pés enfiados nuns ténis de marca que alguém deitara no caixote do lixo.
Gritava para o céu. Gritava mas o céu não o ouvia. Estava agora ocupado com outros assuntos mais mediáticos. Um grupo de andorinhas regressara e fizera ninho no seu colo. Estava o céu ocupado com os assuntos da terra. O homem continuava a tentar entrar nos assuntos do céu.
Como subir às alturas e descer aos subúrbios sem um alinhamento convincente? 
Tudo para que não se pensasse num espaço desorganizado, até mesmo aquele entre o céu e a terra, onde nada existe a não ser um grito humano: desordens organizadas, apelos aos desocupados num clamor que dá dó.
Enquanto isso, as andorinhas simplesmente planavam nas suas migrações habituais. Desciam e subiam as mesmas alturas, como se a terra não existisse e o céu fosse o seu próximo destino.

Dakini in Café da Manhã
Imgem da net

segunda-feira, 1 de junho de 2015

Silêncios

Se a minha voz silenciosa,
nada te diz,
ouve-me então
através do eco do meu silêncio,
na tua voz

Coloca-te a jeito de o decifrares
em todos os registos
que deixas à tua passagem

Mas, não deixes nunca de me ouvir


Dakini

Ilusorium

Há planícies inteiras a desbravar novos montes de terra. Deviam espreitar para dentro delas mesmas e redescobrir novas sementes por forma a poderem germinar novos temas.
Há tantas e novas sementes à espera de serem semeadas. 

Assim se apalpam as palavras para que os temas surjam em jeito de tinta fresca a pintar os painéis do futuro. Não se podem abafar as sementes, pois elas germinam em cada polegar, tal como estes meus molestando as teclas de um teclado inactivo. 

(Ilusão de óptica será esta a minha fachada, onde me visto por dentro e me dispo por fora?)

Prontifico-me para lhes semear no ventre as novas sementes que caíram enquanto dormia sobre a erva molhada. Sempre que abria os olhos era um céu virgem que me encantava, e a terra, essa esperava as sementes caídas dos meus olhos. Ilusões que se perdem nos cantos esverdeados que pinto nas paredes do meu quarto, enquanto não durmo.

Esta insónia que não me larga. Este canteiro de ervas secas a picar-me a pele. Zangão, digo eu, nesta ilusão de óptica, pronta a furar-me os olhos.


Dakini in "Iulsorium"

sexta-feira, 29 de maio de 2015

Vazio

Arrumado o corpo
no sofá
continuamente
 só
no lamento
dos olhos
a voz trémula
aos sobressaltos
pela cozinha

Bebe um chá
mas só,
desesperada
(mente), só
ouve-o escoar-se
pela garganta inchada
de tanto se dizer, só
por quanto grito irado

Dança às vistas
da janela,  mas  só
sempre só
admite do relógio da Sé
um gemido rasgado
a fragmentar o silêncio
predestino seu
e das vidraças embaciadas
por conta do seu olhar
        anilado

Esmiúça os versos
de um tempo 
envelhecido ao serão
cujo poema 
cospe  a solidão
num prato rachado

Ouve-se morna
a respiração cansada
por sentimentos
gelados, calados
sentires contrários 
aos modos de antes
num corpo abonado

Mas, só, sempre só…
em frios desertos 
e  vazios distantes 
permite-se no corrupio
de uma lágrima

Dakini

Às Vezes

Às vezes não me sinto
quando penso…
a querer descodificar 
o pensar
tantas vezes remendado
de um poema 
alheio ao seu próprio 
movimento

Tenho dias que sinto
pulsarem-lhe os olhos
para dentro das mãos
quando vejo
dedos apontados
para o céu

A inspiração não chega
e o poeta quer 
assimilar do ar
o seu  Eu metafórico

A metáfora 
nunca vem só
não vem
a imagem criada
à volta do fogo
que circunda 
o olhar cansado

O poeta é o seu desejo
de se colocar 
em bicos de pés
e partir o poema
pela metade

Dakini

Entre dois lugares

Ouviam-se murmúrios
chegados de um lugar remoto 
a castigar-lhe os pés

Incertos os seus passos
por quanto os rumores  
e odores a naftalina fina

Ditam-se instantes
percorridos entre dois lugares

Acomodam-se as vénias
e cruzes por entre as vestes
dominicais

Confundem-se 
os vermelhos todos
no centro interminável
de um molde inexpressivo
 mas convexo 
o centro do amplexo 
raiado no lugar dos olhos

As palavras pintadas
com o suco de uma amora
esborrachada
nas palmas das mãos
sucumbem, estigmatizadas
por entre os aromas silvestres
dos ciprestes

Os olhares cativos
e  não traduzidos
em todas as línguas
transeuntes despidos
mal(diziam-se )
em farrapos nas avenidas

O sino anunciava-se
firme no alto do seu trono
última fronteira
que engolia de olhos fechados 
o vermelho sangue
de uma amora
outrora renascida
num lugar ermo

Dakini

Eus...e Eu

Às vezes penso que não sou eu que escrevo
porque há coisas que escrevo
que não as sinto como sendo eu

E por me saber um "não eu"
confundo-me entre os nomes
que deveriam ser os verdadeiros
autores de um poema

Espero então
que sejam só uma reviravolta
a dar ao meu verdadeiro eu

Dakini

quinta-feira, 14 de maio de 2015

Onde o cheiro se faz morte

A partitura serenou o espírito 
de quem se encontrou 
com a verdade
mas a mentira cobriu-a
fez-lhe um filho sem idade

(As mentiras fazem-lhe agora tremer os olhos)

Ouviam-se sons que chegavam 
de um lugar secreto. As bocas engoliam 
notas soltas
à solta pelas nuas encostas
onde já nem as pedras choram
e nem os animais se tocam

A humanidade parece-se 
com uma maçã podre
dentro de uma cesta de vime
que faz da cesta de vime, esteira
como se a morte 
fosse só uma mão aberta 
para a fome

Têm os infelizes todas as letras 
para formarem novos nomes
as pautas abertas
os saxofones prontos
e sopram para dentro deles
como se fossem pães 
acabados de sair do forno

São todos eles
uma chusma com ganga
no pescoço
comandita a querer pisar o morro 
que desmiolado se vai definhando
e até se acabar
chora a dor de não poder sair 
e evaporar-se para outro lugar

Cantam às almas lá para os lados 
onde morreram todos os lobos
que, famintos desceram a encosta
a espumarem pela boca

Todos se encolheram 
até que chegasse a primavera 
e lhes desse mais um pouco 
de chão para cobrir
tal como os bois 
cobrem as vacas
e os carneiros, as ovelhas
e os homens, as mulheres
e os galos, as galinhas

A cacarejar de asas ao vento
lá vão elas até que a fome as leve 
como quem leva um coelho 
pelo cangote sem pelo

São os ventos e as brisas
e as flores que nasceram já
em todas as árvores

São os filhos das partituras
que pediram para nascer
nos caminhos
onde há bosta para pisar
ou até para rasurar alguma 
obra de arte
que irá nascer ainda
de verdade

Dakini "Eventos"- Maio 13

segunda-feira, 11 de maio de 2015

Esta brisa que me atiça


Tinha um turbante dourado
amarrado ao pescoço
e um manto branco 
a cobrir-lhe a pele
que de tanto arejo
salpica de vez em quando
ventos ciclónicos
por sobre a face 
do quebranto da noite

- persegue-me esta brisa 
que me atiça 
em noites 
de lua cheia

Dolores Marques/Dakini "Uivam os Lobos"

segunda-feira, 13 de abril de 2015

Apresentação de "Uivam os Lobos" com exposição fotográfica e etnográfica

O Livro "Uivam os Lobos" esteve mais uma vez em apresentação no Desassossego.

 Estiveram como convidadas a Escritora Aurora Simões de Matos, Prof. Celeste Almeida e Drª Pilar Dias, que fizeram uma apresentação dos lugares da Serra do Montemuro que inspiraram o livro. 
Os temas; a Transumância, Cultos/Religião e um Olhar sobre a Serra.



A Casa do Concelho fez-se representar com material etnográfico

O grupo de Teatro "Almas no teatro", fizeram representação de poemas do livro