(Fernando Pessoa / Carlos do Carmo
Orpheu
Assim iam os tempos
no coração da cidade
entre a nudez de um rio
a cantar o fado vadio
Trinavam-se os versos
de um poema singular
nos dedos exangue
do poeta a chorar
O poeta sonhou, nasceu
e morreu. Lisboa aconteceu
quando Ulysses se comoveu
ante o dedilhar da esperança
numa guitarra sem voz
Triste fado, o seu
alma sua
sina nua e crua
aportada à Geração
de Orpheu
Lembrava os trapaceiros
encalhados
no cais moderno
junto à praça do Império
Bradava por naus esquecidas
pelo regresso dos heróis
do além-mar aventureiro
e arruaceiro
onde a mensagem se perdeu
Dakini
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